sábado, 2 de julho de 2011

Um texto inteligente sobre a emancipação de Pains.

Abaixo o texto publicado no diario de santa maria

J. BICCA LARRÉ

 Jornalista

http://www.clicrbs.com.br/dsm/rs/impressa/4,1304,3373743,17455



Santa Maria menor

Parece nome de basílica, mas não é. Me refiro à ideia de desmembrar três distritos de Santa Maria para transformá-los em novo município. Até que me convençam do contrário, isso iria não só tornar Santa Maria menor como também criaria um novo município órfão e carente. Não sei a quem interessa essa ideia separatista.

Claro que seriam criadas muitas vagas para políticos e afiliados partidários ávidos de oportunidades na vida pública. Quem seria o primeiro prefeito do novo município? O leitor tem ideia? E de que hostes, de que facção ideológica, de que credo religioso, de que nível cultural seriam os secretários e o primeiro escalão governamental? Quem e quantos seriam remunerados? Há muitas indagações a serem feitas.

E o regime político? Seria republicano ou imperial? Uni ou bicameral? Parlamentarista ou presidencialista? Sede de comarca e de diocese? E a sede da capital seria em qual dos três antigos distritos?

No seio da organização familiar também existe essa ânsia emancipatória. Os varões jovens almejam a maioridade para serem donos do próprio nariz. E se soltam pelo mundo afora, sem haverem refletido bem sobre a dureza que é bastar-se. Sem nenhuma noção do mercado de trabalho, de como satisfazer suas básicas necessidades de sobrevivência. Então, muitos voltam para a velha casa paterna, de mãos vazias e de sonhos mal-aviados e desfeitos.

Há exemplos disso geograficamente bem próximos do mapa de Santa Maria. Os desmembramentos, ademais, sempre implicam uma subversão da ordem. Uma traição e uma insurgência intrínseca de quem foi eleito por um lugar e o quer implodir durante o mandato que recebeu. E não se fale em curral eleitoral. Não é o caso.

Spara Neto me enviou um e-mail antológico, que cai como uma luva, mesmo nas mãos grandes de um grande vereador: um pesquisador inglês realizou estudos durante anos numa aldeia africana. Antes de se despedir, quis dar uma festa às criancinhas do lugar. Encheu uma grande cesta de balas, bolos e doces. Colocou-a sobre uma pedra e organizou os petizes lado a lado, numa linha de partida. Quem chegasse primeiro, ganharia a cesta sozinho. Deu a partida e todas as crianças deram-se as mãos, chegaram juntas e, entre si, distribuíram os doces. Porque nenhuma ficaria feliz se todas as outras ficassem tristes. Ubuntu!

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